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Tuesday, April 26, 2011

Quer encontrar alguém que confia no próximo? Procure um motoqueiro.

Desde que comecei a atravessar a cidade com uma moto, passei por três dois estágios.

No primeiro, você acha que tudo é possível, mas você não tem coragem de fazer -- cortar no meio dos carros, andar no corredor, inclinar a moto a 45 graus na curva. Você só fica olhando admirado os "cachorros loucos" fazerem coisas que até deus duvida.

No segundo, você conclui que algumas coisas dá pra fazer, e na verdade não requerem muita coragem, apenas prática e perder aquele cagaço inicial da moto. Coisas do tipo fazer curvas mais fechadas, inclinando (só um pouquinho) a moto, andar no corredor (mas só quando os carros estão parados no semáforo) e outros afins.

No terceiro, o qual alcancei hoje, você percebe Hoje percebi que existe um terceiro estágio, que ao alcançá-lo você se torna um verdadeiro cachorro louco. E nesse estágio entendi que você não precisa de coragem. Você precisa de uma inabalável fé no próximo.

É isso mesmo. Pra fazer as loucuras que você vê os motoqueiros fazendo por aí, saiba que essas loucuras só são possíveis porque eles tem plena fé e convicção que você, motorista, não irá fechá-lo repentinamente, irá abrir um pouco mais pros lados pra criar espaço pra ele no corredor, sempre no último momento possível.

É ou não é um verdadeiro testemunho à evolução da humanidade? Se todos formos mais como os cachorros loucos da vida, o mundo será um lugar melhor pra se viver... (?!???!!?)

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UPDATE: para tranquilizar amigos e família, atualizei o post, pois da maneira que tinha escrito antes levou o pessoal a pensar que eu alcancei o terceiro estágio eu mesmo. Na verdade o que aconteceu é que eu entendi o que é preciso pra se alcançar o terceiro stágio. Mas estou firme e forte no segundo. Eu não consigo ter tanta fé assim no próximo... O quarto estágio, creio eu, é o hospital, e estou tentando me manter longe dele. ;-)

Monday, November 1, 2010

Triste fim de Policárpio Quaserra

Eu me considero moderado. Extremamente. Costumo analisar as questões postas à mim de vários ângulos, considerar pontos de vista diversos dos meus e, mesmo depois que já formei minha opinião, estou disposto a mudá-la, se os argumentos certos forem apresentados.

Não se deve confundir isso com ser passivo ou blasè. Quando os argumentos são bons, quando a lógica encontra companhia, forma-se forte raiz e a árvore nascida de meu pensamento não cede com facilidade.

Tendo me qualificado dessa forma, gostaria de dar meus dois centavos de prosa sobre o resultado das eleições 2010. Poucas vezes me senti ligado tamanha maneira no debate, poucas vezes me senti tão em dúvida sobre qual opção seguir. Mas me peguei envolvido em discussões com outras pessoas.

Eu gosto de prestar muita atenção ao que as outras pessoas falam, e as opiniões que emitem. Ouvi gente que muito admiro sair em defesa de Dilma com unhas e dentes, ignorando o fato de ser totalmente inexperiente em cargos executivos e de ter sido inventada por Lula -- efetivamente todos os traços que me levaram a chamá-la do Pitta de Lula (lembram do original, do Maluf?). Também ouvi gente a qual tenho enorme respeito defender Serra, passando por cima de sua postura extremamente conservadora (indo contra sua própria história -- o que demonstrou casuísmo), seus uso indiscriminado de dois pesos e duas medidas e seu duplipensar que me deixava tonto.

Também gosto de dar a minha. Entrei em discussões onde as pessoas envolvidas (a maioria pró-Serra) estava certo que eu era Dilma; entrei em outras, de maioria pró-Dilma, onde fui tachado de serrista. No fim, eu estava realmente buscando debate, discussão construtiva, queria que alguém confrontasse minhas opiniões e me fizesse mudar de idéia. É assim que funciono, embora muitas vezes as pessoas encarem isto como sendo resoluto, quando na verdade nada está mais longe da verdade -- eu adoro sentar em cima do muro, me fazer de advogado do diabo, enquanto espero que alguém realmente me confronte com uma opinião ou um ponto de vista inteligente e que me faça "cair" pra um dos lados.

No final, tirando os fanáticos de carteirinha, percebi como todos que votaram o fizeram usando o famoso racional "o menor dos dois males" -- ou três, no primeiro turno. Confirmo que foi o mesmo processo que usei. Poderia lhe dar meus argumentos para ter feito minha opção (e confesso que quando imaginei esse post fiz pensando exatamente nisso -- explicar meu voto) mas cheguei a conclusão que não faz diferença, pelo menos para aqueles verdadeiramente moderados como eu. Os que votaram no Serra tinham motivos -- e bons -- para fazê-lo. Idem para quem votou na Dilma. No final das contas todos concordamos que "o Brasil pode mais", mas era preciso que ele "seguisse mudando". Por quê tínhamos que optar entre um ou outro? Queríamos -- votantes moderados de Dilma e de Serra -- não ter que escolher entre esses dois mundos, e sim achar alguém que, realisticamente, nos propusesse o melhor deles.

No final, creio que Serra matou a melhor chance disso ao bloquear o caminho de Aécio à candidatura. Se ele seria em verdade esse mítico candidato não saberei, mas com certeza ele assim teria sido visto pela maioria dos moderados. Todos desse time que votaram em Dilma o fizeram com muito medo que ela fosse um novo Pitta, mas ao mesmo tempo reconheceram as gigantescas evoluções ocorridas durante a gestão lulista (os quais seria de grande ingenuidade atribuí-los ao acaso ou ao fato que "FHC plantou pra Lula colher", como já cheguei a ouvir por aí). Os que votaram em Serra, o fizeram com medo de um retrocesso -- político e ético.
 
No final, a eleição de Dilma é um testemunho à enorme incompetência de Serra -- e do PSDB. Ambos saem muito mais fracos dessas eleições do que quando entraram. Recomendo o incrível artigo de Kennedy Alencar na Folha para um excelente post-mortem desse processo. As chances estavam todas do seu lado e ele conseguiu jogar todas fora e, claro, novamente sem subestimar Lula, encontrou formidável adversário político que, saído das linhas metalúrgicas de São Bernardo do Campo, mostrou as ditas "elites" como se faz política.
 
Saímos, nós moderados, dessa eleição como entramos: sedentos de encontrar alguém que consiga unir os inegáveis avanços sociais, econômicos e políticos obtidos no governo Lula, enquanto mantém a inflação em xeque e a saudável participação do capital em setores da economia que precisavam há muito se livrar do peso do governo (definitivas conquistas de FHC), mas que finalmente coloque o país no rumo do crescimento sustentável (e não estou falando de nada ligado à Marina aqui), ou seja, alguém que coloque educação como única diretriz que vale a pena ser perseguida com todas as forças, e saúde como próximo passo do patamar básico de dignidade pro cidadão brasileiro, elevando o nível que até agora apenas garante que as pessoas não morram de fome -- em si só uma grande conquista; com a crença que a segurança virá a reboque de quem promover esses dois eixos, ao mesmo tempo que esse alguém solidifica as conquistas econômicas anteriores ao desonerar a produção, através da redução da máquina e consequentes impostos necessários para sustentá-la.
 
Quem sabe em 2014? Ou quem sabe seremos surpreendidos por Dilma? Asseguro-lhes que os verdadeiramente moderados vão adorar essa surpresa -- mesmo que sejam serristas, desde que sejam realmente moderados.
 
E que venham os próximos 4 anos!
 

 
P.S.: em tempo, para os curiosos -- eu votei em Dilma no primeiro e segundo turnos; ao que parece, ninguém conseguiu me trazer argumentos melhores em favor de outro candidato, ou não quiseram me confrontar, me julgando já convertido serrista ou dilmista; voto nulo me soa a escapísmo e vai contra meu melhor julgamento.

Sunday, April 11, 2010

Bom trabalho vs. excelente trabalho

E cá estou de volta ao hospital... Segunda cirurgia em menos de 20 dias, o blog tá ficando animado!

Se tudo der certo, saio hoje pra nunca mais voltar. Peguei ojeriza de hospital e de médico. Juro que se precisar de uma terceira cirurgia eu tenho um treco!

Cada vez que venho pra essa porcaria, pelo menos há uma vantagem: tenho tempo pra refletir nas coisas, e o blog ganha um post novo. Penso, logo o blog existe. Ou ainda melhor: adoeço, logo o blog existe!

Dessa vez, o destaque vai para a definição do que é bom versus o que é excelente trabalho. Trocamos há pouco de empregada em casa, e estamos muito felizes com ela até agora (primeiro mês, tá mostrando serviço, vamos ver como vai). Ela é esperta, comunicativa, dá contribuições efetivas e toma iniciativa. Todas características que devem ser extremamente valorizadas em qualquer funcionário -- imagine a minha sorte de achar uma empregada doméstica com essas características.

Tive hoje um excelente exemplo para ilustrar: 1) como ela é eficiente e 2) a diferença entre fazer um bom trabalho versus fazer um excelente trabalho.

Foi coisa simples, que é onde se consegue prestar na maioria das vezes um excelente trabalho. Numa atividade complexa, excelente é quando se executado exatamente o que foi imaginado por quem o pediu. Fazer algo além, não é excelente, é "UAU" (como ensinam na Disney University). Mas estamos falando de excelente. No trabalho simples, como qualquer um (presume-se) consegue fazer, quando faz-se algo além do esperado, faz-se algo excelente.

A situação: vim pro hospital de emergência (de novo) e fui internado. No total (se eu sair hoje) terão sido mais 5 dias aqui. Mara foi em casa pegar as coisas e esqueceu do meu aparelho de barbear. Normalíssimo, pois na correria e no stress, já estou feliz que ela conseguiu ter tempo pra me trazer cuecas novas. Mas dado que a última barbeada tinha sido na segunda de manhã, imaginem vocês como eu estava ontem (sábado). Minha esposa estava começando a pensar que casou com o Lobisomem da saga Crepúsculo...

Como minha mãe vinha pro hospital me ver, pedi pra Mara ligar pra empregada e pedir o aparelho de barbear e a espuma, separar numa bolsinha e dar pra minha mãe trazer. Serviço cumprido, bom trabalho.

Hoje de manhã, fui tomar banho e finalmente abri a bolsinha que tinha vindo ontem. Qual não foi minha surpresa quando, além de encontrar o aparelho e a espuma, ela também mandou o meu pincel de espalhar espuma (totalmente "nice-to-have", pois poderia usar a mão numa boa -- nem lembrei de pedir) e aí, no item que me fez falar "que trabalho excelente" ela teve a presença de espírito de mandar uma lâmina nova.

Veja só que detalhe besta! Vocês devem estar pensando, e daí? O daí é que isso significa muita coisa: que ela pensou no que eu ia fazer com o aparelho, não apenas cumpriu a ordem; pensou onde mais ela podia agregar valor numa tarefa simples (mandou o pincel); e se pôs no meu lugar (e se o aparelho estiver com a lâmina usada e ele quiser trocá-la).

Isso é o verdadeiro espírito do excelente trabalho. Não apenas cumprir a ordem, mas entender o que está sendo pedido e ir além, pensando no que a pessoa que fez o pedido realmente queria. No final, eu não queria que ela mandasse a lâmina e a espuma. Eu queria fazer uma boa barba depois de uma semana sem. E ela entendeu isso, através do meu pedido. Excelente trabalho.

Friday, March 26, 2010

O final de Lost e a chance de mudar a TV via Internet

Como boa parte dos internautas, estou vidrado no Lost também. Sofri imensamente cada interrupção entre uma temporada e outra, e tenho vontade de xingar a mãe dos criadores a cada capítulo que se encerra, deixando vontade de mais na sequência. Sem falar no fato de que, como cheguei atrasado pra festa, perdi a conta de quantas noites eu e a esposa ficamos acordados até mais tarde só pra ver "mais unzinho".

Quem conhece Lost sabe do que estou falando. É viciante.

Tão viciante que a grande maioria ao redor do mundo não aguenta esperar. Apesar de todos os países no mundo terem um canal de TV local ou a cabo que retransmite o Lost, o mesmo é sempre feito com alguma defasagem, podendo variar de uma semana até meses.

Por isso, um fenômeno (que já existia) ficou muito evidente com o Lost: a distribuição de conteúdo gravado da TV via Internet, e uma rede de "anônimos" criadores de legendas. Com a evolução da banda, dos protocolos de compressão de vídeo e das tecnologias de exibição de vídeo com legenda hoje eu consigo ter uma cópia da gravação transmitida em tempo real (normalmente, ou é direto da ABC ou da CTV, canadense, que também transmite em tempo real) aproximadamente uma hora depois que acabou de ir ao ar. E em mais uma horinha ou duas, tenho um arquivo SRT que contém a legendagem completa -- em português brasileiro!

Isso não é privilégio nenhum. Na verdade, no mesmo momento que o grupo de legendagem anônimo brasileiro está trabalhando na madrugada de terça pra quarta, dezenas de outros em todo o mundo fazem o mesmo: em espanhol, em japonês, em chinês, em francês, em holandês, em português de portugal... vocês entenderam.

Ou seja, duas horas depois que o episódio de Lost foi ao ar, em tempo real nos EUA e Canadá, ele está disponível para ser assistido em todo o mundo (full HD leva uma ou duas horinhas extras), com a legenda na língua de sua preferência.

Acho que isso serve de introdução para quem nunca tinha ouvido falar do fenômeno. Claro que todas as consequências que vem disso acontecem na sequência: a ABC tentou no começo impedir, alegando violação de copyright. E caiu num buraco legal interessante: quando a transmissão é feita em TV aberta, a pessoa que assiste tem direito de fazer (quase tudo) o que quiser, desde que não vise lucro, com o que foi transmitido. Uma das opções é gravar (como sempre fizemos com nossos videocassetes VHS) e a outra, é emprestar a gravação pra um amigo ver. Faça isso vezes a força da Internet e já viu, né? Muitos "amigos" recebendo cópias, simultâneamente, num espaço de tempo mínimo.

Tudo isso é feito sem nenhum fim lucrativo, realmente. Os dubladores anônimos fazem seu trabalho de graça. Os "ripadores" (aqueles que copiam o programa em arquivos e os disponibilizam para baixar) também. O objetivo é apenas difundir, o quanto antes, aquele episódio novo, maluco, que vai deixar a gente de cabelo em pé e, em contrapartida, arrancar alguns dos mesmos no final.

Pra quem não conhece Lost, o mesmo está acabando. Acabei de ver o nono episódio da sexta temporada. Essa é a última temporada e faltam agora apenas oito episódios para o grande final. O episódio foi veiculado nessa terça à noite nos EUA e Canadá. Na quarta à noite eu já tinha assistido (com legendas em português de portugal -- baixei a errada dessa vez).

Poucas coisas estão sendo mais aguardadas na comunidade que o último capítulo da última temporada do Lost. Será um capítulo duplo (duas horas de duração). A rede vai ferver assim que o mesmo terminar. Cópias e mais cópias estarão voando por aí. Legendas e mais legendas serão escritas na madrugada. Os "ripadores" e legendadores competem pra ver quem sai mais rápido que o outro.

Acho que meu ponto ficou claro em uma coisa: existe demanda. E não é pouca. Existe uma demanda monstruosa de usuários que querem saber na hora, ou o quanto antes, o que aconteceu com Jack, Hurley, Kate, Sawyer e demais. Existem sites (não oficiais) onde você pode assistir em tempo real! Claro que aí é sem legenda.

Algumas conclusões que podemos tirar até aqui:

  • O canal ABC americano está faturando os tubos com publicidade à cada episódio veiculado; essa receita não está sendo de forma alguma afetada pela ação do pessoal da Internet;
  • Existem outras fontes de receita secundária, como venda de DVDs e venda de direitos para outros canais a cabo e abertos de outros países; essa seria a reclamação da ABC -- a transmissão e veiculação via Internet de maneira "não controlada" por eles comeria diretamente esses lucros;
  • Mas ao mesmo tempo, independente desse "frenesi" na Internet, tem muita gente que assiste só quando passa na Globo ou no AXN (canal de TV a cabo que está, pro Brasil, transmitindo com uma defasagem de duas semanas); outros, deixam pra comprar o DVD;
  • E o motivo é que, assistir na frente do computador é chato. Baixar o arquivo com o CODEC certo e achar a legenda SRT correta é chato. A experiência toda é incômoda, até um certo ponto, e exige um certo nível de destreza com o computador e com a Internet pra achar as fontes certas. No meu caso eu resolvi a questão do computador, copiando tudo pra um pen drive, pois minha TV lê dele diretamente -- mas precisa estar no CODEC certo, o arquivo SRT tem que ter o nome certo, etc.
Meu ponto, se tem algum nessa história que está ficando longa demais, é que mesmo distribuíndo o conteúdo via Internet, as ABCs da vida não deixarão de vender direitos para TV aberta e fechada, não deixarão de lucrar com DVDs. Então, porque a própria ABC não busca lucrar com a distribuição via Internet (vai acontecer mesmo) para aquela parcela que usa a Internet como meio de consumo?

Eu acredito que a ABC tem a oportunidade de usar esse final de Lost para criar um evento transformador para a TV via Internet.

Imagine se a ABC se programasse para divulgar de forma ampla que a final de Lost será a primeira a ser transmitida em tempo real para todo o mundo? E com a possibilidade de selecionar a legenda na língua que você quiser (disponível para as principais línguas)? Não aquela legenda amadora feita por pessoas de boa vontade, mas uma legenda profissional. Quanto isso iria encarecer o custo já milionário de produção de um episódio? Tenho certeza que nada que não vá ser coberto pela fortuna massiva que será feita com a venda de propaganda em tempo real para a transmissão via Internet.

Quem assiste em tempo real é cativo dos anúncios. Não tem TiVo ou edição possível que lhe permita pular os comerciais. Os anunciantes sabem disso e por isso pagam bem por anúncios em programas inéditos. Que tal um programa inédito em todo mundo? Que valor tem isso para as marcas globais de hoje em dia?

Isso seria utilizar a Internet para criar uma TV aberta realmente global. Ainda seria uma TV "chata" de consumir, pois você teria que estar na frente do computador ou usar algum "rolo" pra assistir da TV de casa. Mas seria muito mais fácil do que é hoje, atraíndo novos consumidores, com certeza. Ainda assim, lhe asseguro que muita gente ia continuar esperando os AXNs, TV Globos e DVDs saírem pra consumir o seriado. Mas se alguma receita foi perdida por conta da Internet, porque não tentar recuperá-la?

A ABC tem uma oportunidade ímpar na mão para mudar o panorama da TV via Internet e, potencialmente, criar um modelo de negócios que impeça que aconteça com a TV o mesmo que aconteceu com a música. Embora no caso da TV seja difícil acontecer exatamente o mesmo, dada a natureza do produto, mas uma parte significativa do valor já está sendo perdida. Ao mesmo tempo, a ABC irá criar toda uma rede direta de consumidores novos para seus conteúdos, que hoje só chegam até eles através de intermediários. Quanto vale eliminar o "middle man"?

Tudo posto, esse é um momento onde se poderia fazer história. Vai ser triste ver a oportunidade ser deseperdiçada, como tantas outras. Espero que no futuro alguém realize essa visão, e espero que o faça ainda em tempo de não deixar que um novo MP3 nasça. O prejuízo é de todos -- consumidores inclusive.

Tuesday, March 23, 2010

Clínica Tobias Blues (atualizado)

Clínica Tobias Blues, Vol. ICanceriano Sem Lar (Clinica Tobias Blues)Procurando a foto da Clínica Tobias, descobri que lá era o único lugar que o Raul Seixas aceitava ser internado para desintoxicação. Chegou a escrever uma música, chamada de Clínica Tobias Blues (Canceriano sem Lar). Tem também um álbum chamado Clínica Tobias Blues, mas que engraçadamente não inclui a música em si.

Cheiro de hospital

Então, estou de volta ao hospital.

Passaram-se tantos anos desde a última vez que me internei aqui, que até esqueci quanto. Sabia que era inevitável, mas não deixava de achar que podia evitar de alguma forma.

Estando aqui, a gente tem tempo pra pensar. Sem poder fazer muito mais que ficar deitado, comer e caminhar, têm-se muito tempo pra pensar. Tem tempo até pra atualizar um blog que amanhã ia fazer um ano que não via nenhuma atualização (sim, eu também percebi). Numa dessas caminhadas, saí do lado de fora do hospital só pra sentir um pouco de ar puro. E aí percebi (e comentei com a Mara): todo hospital tem o mesmo cheiro.

Bem, eu não estive em todos os hospitais. Mas em todos que estive (e acredite, já estive em vários, em vários estados e até mesmo em vários países) nunca muda. O cheiro do hospital é característico. É uma mistura de ar condicionado e um suave toque de algo forte (álcool? formol?). Não sei definir, mas é muito distinto, único. Quando saí pra caminhar hoje, percebi a diferença, estando já meio viciado no cheiro do mesmo.

E aí me lembrei do único hospital em que eu não senti esse cheiro. E até um bom ponto da minha vida era a minha referência de cheiro de hospital -- ou seja, eu achava que todo hospital tinha esse cheiro.

Foi onde eu nasci, a Clínica Tobias. Não creio que minha memória olfativa vá de volta a minha data de nascimento, mas até um bom ponto da minha vida (11, 12 anos?) era lá meu pediatra. Era um cheiro único, de madeira envernizada. O lugar todo era feito de madeira, no piso de tacos largos, nas vigas grossas que sustentavam o teto, que tinha uma cobertura toda de madeira. Os batentes das portas, o balcão da recepção, e um palco que ficava logo na entrada, onde faziam rápidos shows para os enfermos. Os brinquedos de madeira que ocupavam toda a recepção, junto de poltronas fofas, também em madeira.

Nunca tirei aquele odor da minha cabeça, mas não posso dizer que fiquei desapontado quando percebi que outros hospitais eram diferentes. Na verdade, fiquei desapontado hoje, quando percebi que todos são iguais, e a Clínica Tobias é que era única.

Wednesday, December 17, 2008

Sete coisas que você não sabe sobre mim

Para parafrasear minha irmã: fui intimado por ela a compartilhar com o universo sete coisas que ninguém saiba sobre mim. E no final eu tenho que transmitir a maldição a mais outros incautos. Como me parece ser essa uma corrente sem vítimas, decidi seguir no jogo.

Aliás, achei divertido rastrear os links para trás da Laura e acompanhar o fluxo da corrente. Bem melhor, mais fácil e interessante que as correntes via e-mail...

1) Eu fiquei viciado em Mario Kart Wii, não consigo parar de jogar sempre que estou em casa

2) Até alguns meses atrás eu estava com um problema sério de concentração no trabalho, sempre procrastinando as tarefas em favor de navegar na Internet; no final, eu descobri que o motivo era porque eu estava desorganizado demais, e por não saber por onde começar eu fazia "default" pro browser. Solução: coloquei uma fita do Senhor-do-bonfim em mim pra me lembrar de que toda hora que eu abro o Chrome é porque eu preciso parar e me organizar. Tem funcionado muito bem!

3) Quando estou sem a família em casa (como agora) só consigo dormir com a TV ligada, pra "sentir" como se tivesse alguém mais comigo.

4) Ainda no tópico acima, quando a Mara não está comigo, eu não consigo dormir no meio da cama. Eu sempre deixo o cantinho dela guardado. Mesmo em quarto de hotel, quando me dão cama grande.

5) Eu não gostava de Enzo como nome pro meu filho. Na verdade, nunca consegui gostar de nome nenhum para menino. Mas depois me apeguei ao nome, que foi a Mara que escolheu. Para minha filha foi fácil: Luísa, da música do Jobim. Mas fiquei decepcionado quando descobri que a do Jobim é Luiza. Por mais que eu gostasse da música, não consegui trair o português: tinha que ter acento no I e S entre as vogais.

6) Para minha terceira filha, dei o nome de uma vizinha minha que estudamos juntos no primeiro grau. Eu não era apaixonado por ela nem nada, mas eu sempre achei o nome dela lindo: Juliana. Como não queria que a Mara rejeitasse o nome achando que eu tinha dado porque era de uma ex-namorada (o que não era, mas mulher é fogo), eu não contei isso pra ela até hoje... Vamos descobrir se ela lê o meu blog.

7) Eu sou absolutamente fanático por espaguete carbonara. Eu faço meu próprio (tenho aprimorado, Dida!) e toda vez que vou num restaurante que tem, eu tenho que pedir, por mais que haja outras opções interessantes. E quando eu gosto de um, dificilmente eu consigo não pedir ele quando eu retorno ao mesmo restaurante.

Dá pra fazer fácil mais de 7, mas vamos nos ater ao espírito da brincadeira e também não fazer nada muito (mais) comprometedor.

Agora vamos lá: quais são as sete coisas que eu não sei do Scheer e da Dida?

UPDATE: o blog do Scheer está "fechado para reforma", mas fica o desafio até que ele volte em serviço.

Saturday, December 6, 2008

nunca vi nada igual




Essa foi a idéia mais bem bolada que já vi para usar a Internet com marketing.

Clique aqui ou em qualquer um dos banners para conhecer os Banner Concerts, organizado pela Axion que é um braço de promoção musical do banco belga Dexia.







Não pude resistir ao apelo e enchi meu blog de propaganda da Dexia. Como se não bastasse ser uma puta boa idéia, a seleção musical é muito boa também. Execução excepcional de toda a campanha.

Incluí meus favoritos, mas isso é injusto com os outros, pois ainda não consegui ouvir todos... :)



Tiro meu chapéu pra quem teve essa puta idéia! Clique em "bekijk het" para ouvir.

Saturday, November 29, 2008

neva na Bélgica também

Não achei que iria ver tanta neve assim na Bélgica. Quase um palmo de profundidade, depois de nevar por quase 4 horas seguidas. Eu estava num almoço com brasileiros no dia. Depois que a neve parou, o único pensamento em todas as cabeças era "guerra de neve". E assim foi...

Friday, September 26, 2008

o céu está caindo!!!

Um excelente exemplo do excelente trabalho que George W. Bush vêm produzindo para te assegurar que tudo vai bem:

Monday, September 22, 2008

momento de reflexão

Um momento de reflexão é o que diz a palavra: para refletir. Como se sentássemos em frente ao espelho e déssemos uma boa olhada no que aparece. É difícil ficar em frente ao espelho e não pensar em nada. Convida-nos a um julgamento, a dizer a nós mesmos se gostamos ou não do que vemos.

Esses momentos são muitas vezes espontâneos. Nos pegamos sem querer refletindo sobre nós, pensando em nossas vidas, no que fizemos, no que estamos prestes à fazer. Esses são os mais importantes para nós. Raras são as ocasiões em que nos retiramos em silêncio determinados à auto-reflexão e introspecção.

Desses momentos tiramos conclusões (o julgamento) que, para o bem ou para o mal, ficarão conosco por um bom tempo. Como em qualquer julgamento, há um juiz que emite sua decisão final. Pode ser até passível de recurso, mas até lá é essa avaliação que perdurará.

O bom juiz não busca agradar nenhuma das partes envolvidas. Apenas julga e emite uma opinião neutra, sem influências. No momento em que encontramo-nos com nossa consciência nos julgando não há excusas, poréns ou entretantos. Apenas uma brutal honestidade consigo mesmo.

Nesse contexto me vi há algumas horas atrás. Caminhando nas ruas de Bremen, voltando do jantar.

Tenho passado muito tempo na Alemanha por conta de um projeto que estou liderando, viajando muito da Bélgica para cá, e consequentemente tendo tempo comigo mesmo. Mas nunca estou sozinho -- um livro, uma revista, um jornal. Me mantenho ocupado, às vezes enquanto caminho.

Mas não nessa noite, voltando do jantar.

Minha mente estava vazia dessa vez. Caminhava de volta ao hotel enquanto observava os prédios históricos. As placas escritas em alemão. O bonde e as pessoas que passavam. O frio de dez graus. Já era escuro.

E sem premeditação comecei a refletir. Sobre onde estou, o que estou fazendo, até onde eu cheguei. Pra onde eu vou.

Como é impressionante que há pouco mais de uma semana eu estava no Brasil. E agora estou há meio mundo de distância.

Como é assustador pensar que agora meu trabalho é aqui. E agora eu falo uma língua que não sou nativo.

Como é animador que tenho um time composto de pessoas de diversas nacionalidades. E que todos eles conseguem se entender.

Como me faz feliz realizar que meu filho já sabe uma segunda língua com 5 anos de idade. E que ele me enche de orgulho.

O juiz fez sua argumentação final e elaborou como tudo isso parece com sucesso e conquista, de como meus pais devem estar orgulhosos, amigos felizes e inimigos invejosos. Mas em seu veredito final ele deixou claro: trocaria isso tudo agora para estar com a Mara e meus filhos.

(Ultraviolet)

P.S.: Voltei a escrever no blog, depois de 5 meses, por mim. Não vou me enganar e dizer que irei atualizá-lo regularmente, pois sei que não irei. Se algo mais se manifestar, colocarei aqui. Ao eventual passante que leia essas mal-traçadas, obrigado e bon chance.

Tuesday, April 29, 2008

cortes de carne brasileira em inglês (e outras línguas)

Uma das coisas que mais sofro, ao morar no exterior, é com os cortes da carne. É sempre dureza entender "de que tamos hablando" quando você vai no mercado. Os nomes são dos mais variados, e aqui na Bélgica, vêm em duas versões: Francês e Flamengo (um dialeto Belga do Holandês, uma beleza). Às vezes, você acha em Alemão...

Portanto, não sem muita surpresa, percebi que não tinha certeza de que corte equivalia ao "rumsteak" quando meu pai me perguntou -- estou com meus pais me visitando aqui na Bélgica. Chutei picanha (ou próximo) pois eles aqui não cortam picanha -- simplesmente dividem e misturam em outras carnes (sacrilégio!!). Ao pesquisar, descobri que estava errado (era alcatra) e, no processo, achei uma referência definitiva -- ou quase.

O SIC - Serviço de Informação da Carne (eu sei, eu sei, a sigla podia ser beeem melhor) foi criado nos moldes do CIV - Centre d´Information des Viandes, de Paris, e é muito bom no que faz. Em ajudar você a descobrir como se chama picanha em Inglês, por exemplo (cap of rump).

Abaixo, o link onde você encontra os cortes de carne brasileiras traduzidos em três línguas -- Espanhol, Inglês e Francês (nem todas as carnes estão em todas as três) -- junto com uma boa descrição de como é a carne, textura, gosto, etc. Além disso, você encontra diversas variantes de nomes brasileiros para o mesmo tipo de carne -- você sabia que lagarto também é chamado de tatu?

http://www.sic.org.br/informacoes.asp

Para os mais preguiçosos, segue um sumário rápido das mais importantes. Mas não deixe de visitar o link -- tem muito mais informação pra você que sempre quis saber como se chama patinho em Francês (rond de tranche). Seus problemas acabaram!

Picanha
- Tapa de cuadril (espanhol)
- Cap of rump (inglês)

Maminha
- Colita de cuadril (espanhol)
- Aiguillette baronne (francês)
- Tail of round (inglês)

Alcatra
- Cuadril (espanhol)
- Rumsteck (francês)
- Rump (inglês)

Contra-filé
- Bife de chorizo (espanhol)
- Faux-filet (francês)
- Striploin (inglês)

Filé mignon
- Lomo (espanhol)
- Filet (francês)
- Tenderloin (inglês)

Fraldinha
- Vacio (espanhol)
- Bavette d´aloyau (francês)
- Thin flank (inglês)

Miolo de alcatra
- Corazón de cuadril (espanhol)
- Eye of rump (inglês)

Bisteca ou chuleta
- Côte de boeuf (francês)

Costela
- Asado de tira (espanhol)
- Plat-de-côtes (francês)
- Short ribs (inglês)

Filé de costela
- Bife ancho (espanhol)
- Entrecôte (francês)
- Cube roll (inglês)

Ainda não tem em Flamengo, mas boto fé que eles chegam lá.

Sunday, April 20, 2008

O livro da Luísa... parte 2

Hoje foi um dia produtivo. Fiz as imagens para os primeiros 14 versos do poema. Mas me dei conta que vai gerar mais trabalho do que eu imaginava: o poema inteiro é composto de 110 versos. Vou ter que ser mais compacto...

Segue mais um gostinho. Segundo minha irmã, essa imagem é a pior delas. E é a que eu mais gostei... cada um tem um gosto (e eu sei que o meu não é dos melhores).