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Monday, November 1, 2010

Triste fim de Policárpio Quaserra

Eu me considero moderado. Extremamente. Costumo analisar as questões postas à mim de vários ângulos, considerar pontos de vista diversos dos meus e, mesmo depois que já formei minha opinião, estou disposto a mudá-la, se os argumentos certos forem apresentados.

Não se deve confundir isso com ser passivo ou blasè. Quando os argumentos são bons, quando a lógica encontra companhia, forma-se forte raiz e a árvore nascida de meu pensamento não cede com facilidade.

Tendo me qualificado dessa forma, gostaria de dar meus dois centavos de prosa sobre o resultado das eleições 2010. Poucas vezes me senti ligado tamanha maneira no debate, poucas vezes me senti tão em dúvida sobre qual opção seguir. Mas me peguei envolvido em discussões com outras pessoas.

Eu gosto de prestar muita atenção ao que as outras pessoas falam, e as opiniões que emitem. Ouvi gente que muito admiro sair em defesa de Dilma com unhas e dentes, ignorando o fato de ser totalmente inexperiente em cargos executivos e de ter sido inventada por Lula -- efetivamente todos os traços que me levaram a chamá-la do Pitta de Lula (lembram do original, do Maluf?). Também ouvi gente a qual tenho enorme respeito defender Serra, passando por cima de sua postura extremamente conservadora (indo contra sua própria história -- o que demonstrou casuísmo), seus uso indiscriminado de dois pesos e duas medidas e seu duplipensar que me deixava tonto.

Também gosto de dar a minha. Entrei em discussões onde as pessoas envolvidas (a maioria pró-Serra) estava certo que eu era Dilma; entrei em outras, de maioria pró-Dilma, onde fui tachado de serrista. No fim, eu estava realmente buscando debate, discussão construtiva, queria que alguém confrontasse minhas opiniões e me fizesse mudar de idéia. É assim que funciono, embora muitas vezes as pessoas encarem isto como sendo resoluto, quando na verdade nada está mais longe da verdade -- eu adoro sentar em cima do muro, me fazer de advogado do diabo, enquanto espero que alguém realmente me confronte com uma opinião ou um ponto de vista inteligente e que me faça "cair" pra um dos lados.

No final, tirando os fanáticos de carteirinha, percebi como todos que votaram o fizeram usando o famoso racional "o menor dos dois males" -- ou três, no primeiro turno. Confirmo que foi o mesmo processo que usei. Poderia lhe dar meus argumentos para ter feito minha opção (e confesso que quando imaginei esse post fiz pensando exatamente nisso -- explicar meu voto) mas cheguei a conclusão que não faz diferença, pelo menos para aqueles verdadeiramente moderados como eu. Os que votaram no Serra tinham motivos -- e bons -- para fazê-lo. Idem para quem votou na Dilma. No final das contas todos concordamos que "o Brasil pode mais", mas era preciso que ele "seguisse mudando". Por quê tínhamos que optar entre um ou outro? Queríamos -- votantes moderados de Dilma e de Serra -- não ter que escolher entre esses dois mundos, e sim achar alguém que, realisticamente, nos propusesse o melhor deles.

No final, creio que Serra matou a melhor chance disso ao bloquear o caminho de Aécio à candidatura. Se ele seria em verdade esse mítico candidato não saberei, mas com certeza ele assim teria sido visto pela maioria dos moderados. Todos desse time que votaram em Dilma o fizeram com muito medo que ela fosse um novo Pitta, mas ao mesmo tempo reconheceram as gigantescas evoluções ocorridas durante a gestão lulista (os quais seria de grande ingenuidade atribuí-los ao acaso ou ao fato que "FHC plantou pra Lula colher", como já cheguei a ouvir por aí). Os que votaram em Serra, o fizeram com medo de um retrocesso -- político e ético.
 
No final, a eleição de Dilma é um testemunho à enorme incompetência de Serra -- e do PSDB. Ambos saem muito mais fracos dessas eleições do que quando entraram. Recomendo o incrível artigo de Kennedy Alencar na Folha para um excelente post-mortem desse processo. As chances estavam todas do seu lado e ele conseguiu jogar todas fora e, claro, novamente sem subestimar Lula, encontrou formidável adversário político que, saído das linhas metalúrgicas de São Bernardo do Campo, mostrou as ditas "elites" como se faz política.
 
Saímos, nós moderados, dessa eleição como entramos: sedentos de encontrar alguém que consiga unir os inegáveis avanços sociais, econômicos e políticos obtidos no governo Lula, enquanto mantém a inflação em xeque e a saudável participação do capital em setores da economia que precisavam há muito se livrar do peso do governo (definitivas conquistas de FHC), mas que finalmente coloque o país no rumo do crescimento sustentável (e não estou falando de nada ligado à Marina aqui), ou seja, alguém que coloque educação como única diretriz que vale a pena ser perseguida com todas as forças, e saúde como próximo passo do patamar básico de dignidade pro cidadão brasileiro, elevando o nível que até agora apenas garante que as pessoas não morram de fome -- em si só uma grande conquista; com a crença que a segurança virá a reboque de quem promover esses dois eixos, ao mesmo tempo que esse alguém solidifica as conquistas econômicas anteriores ao desonerar a produção, através da redução da máquina e consequentes impostos necessários para sustentá-la.
 
Quem sabe em 2014? Ou quem sabe seremos surpreendidos por Dilma? Asseguro-lhes que os verdadeiramente moderados vão adorar essa surpresa -- mesmo que sejam serristas, desde que sejam realmente moderados.
 
E que venham os próximos 4 anos!
 

 
P.S.: em tempo, para os curiosos -- eu votei em Dilma no primeiro e segundo turnos; ao que parece, ninguém conseguiu me trazer argumentos melhores em favor de outro candidato, ou não quiseram me confrontar, me julgando já convertido serrista ou dilmista; voto nulo me soa a escapísmo e vai contra meu melhor julgamento.

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