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Sunday, February 17, 2008

sem título

Abriu os olhos.

Procurou por algo que devia estar lá. Era algo doce. Algo bom. Não sabia.

Era domingo. O celular não tocou o despertador. Sol gostoso entrava brilhante e o vão da janela deixava o friozinho da manhã entrar. Sentia seu pé sem meias, procurar o cobertor quente. Aquele quente-frio do cobertor-pé gelado. Era isso?

A memória se fazia de desentendida. Preso como num sonho em que sabe-se que está sonhando mas que não consegue-se despertar. Estranho. Escovou os dentes. Escova elétrica. Gostava do zumbido na gengiva. Sangrando. Tinha que ir no dentista, pois só a escova não estava resolvendo. Mas pelo menos hoje não doía. Era isso?

Voltou pra cama, sentiu-se cansado. Quis entregar-se. Não, não. Acorda! O que falta?

Uma dor repentina rasgou o peito. A espinha, fria. Tremeu, abraçou o travesseiro. Sentiu a dor invadindo seu corpo. Não conseguia controlar. Não, não, não. As lágrimas. Não, ele não. Eu preciso dele. Queria dormir, queria esquecer, queria desaparecer.

A falta, a ausência, o abraço na manhã de domingo. O peso do seu corpo contra o seu. O afago em seu cabelo. O beijo. Era ele. Tão longe estava o tempo em que estiveram juntos. Que falta fazia.

Era dejà vu. Seria melhor se fosse um sonho. Doeria menos. Aquele quarto, aquela roupa de cama, aquele sol brilhando daquele jeito no quente-frio do quarto, o cheiro daquela manhã.

Ele não acordava sozinho no domingo, nunca acordava por conta própria. Nos dias de semana o celular despertava, mas em manhãs como aquela era sempre ele que o fazia.

Sentiu seu coração vazio ao perceber que seu filho não veio lhe acordar para brincar. Já faziam 20 anos que as manhãs de domingo não tinham aquele cheiro.

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