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Saturday, February 23, 2008

seu mp3 player está online

Há algum tempo, minha irmã me apontou para o Deezer. Um site incrível que permite que você monte suas playlists na Internet, com quaisquer músicas, e ouça-as a partir de lá -- tem inclusive vários artistas brasileiros! Mas, diferente de várias outras variantes safadas, você realmente opera como se seu MP3 player tivesse ido parar na net: não há limitações.

Você pode ouvir a mesma música vinte vezes (ou mais -- é que eu gosto do vinte), voltar atrás nas músicas já tocadas, colocar pra tocar a partir de qualquer ponto no meio da música, enfim, você se sente como se estivesse operando seu _____________ (insira seu "media player" favorito, e.g. iTunes, WinAmp, Windows Media Player).

Me perguntava quanto tempo iria durar até que alguém caísse matando com um processo, mas os autores do site fecharam recentemente um acordo com a Sony BMG abrindo caminho para que outras "majors" licenciem seu catálogo, tornando o serviço efetivamente legal.

"Show me the money"

O modelo de negócios é baseado em anúncios. Acredite se quiser. Eles estão compartilhando com os artistas (via gravadoras) um percentual dos anúncios veiculados no site, baseado nas freqüência que as músicas são ouvidas. No Brasil a Trama está tentando modelo similar, mas baseado em downloads.

Esse me parece o modelo mais sensível de "monetizar" (tradução: fazer dinheiro nas costas de) todos esses downloads ilegais. As pessoas vão ouvir as músicas mesmo, e vão baixá-las na net de um jeito ou de outro. Pelo menos se os artistas estiverem sendo remunerados no processo, vai ser melhor pra todo mundo. Além disso, segundo um estudo recentemente divulgado sobre TV online, parece que o modelo realmente faz sentido para a parte que vai pagar a conta: os anunciantes.

Entretanto, o modelo é a validação de que música não tem um valor intrínseco em si e que deve ser dada de graça, como TV aberta ou rádio. Será que teremos música "a cabo" no futuro, ou seja, certas músicas somente serão distribuídas através de um canal pago? Eu creio que não, pois o que importa aqui não é a qualidade do conteúdo (como qualquer um com TV a cabo pode testemunhar que não é o ponto forte) mas sim controle: na TV, como no rádio, você assiste ou ouve o que aquilo que os programadores querem. Portanto, tem horas que vai ser uma porcaria, em outras vai ser muito bom.

Já na net, você pode ouvir ou ver o que quiser, quando quiser. Sempre se profetizou que consumo "on-demand" seria a chave para cobrar algo diretamente dos "consumidores de mídia" (eu prefiro "apreciadores de cultura"), exemplo mais famoso sendo os canais de TV "pay-per-view". Mas a net subverteu esse modelo ao dar acesso de tudo, a qualquer hora, pra todos, de graça, embora não necessariamente compensando os criadores do conteúdo.

Mas é engraçado que, pelo menos comigo, eu preferiria que houvesse uma fonte oficial desse conteúdo, emanando dos próprios artistas, gravadoras, produtoras, etc. Assim eu teria certeza de que a qualidade é boa, que os arquivos estão completos, que os dados como nome do artista, música, capa, etc., estão corretamente preenchidos e, mais importante, eliminaria aquela famosa "sensação de não estar fazendo a coisa certa", assegurando a compensação de quem se esforçou na criação da peça.

Se ao menos houvessem opções oficiais, contendo conteúdo completo, com flexibilidade para ver o que eu quiser, quando quiser, e fácil como ligar a TV ou o rádio, bastaria apenas ligar ao conteúdo anúncios dirigidos ao perfil de quem ouve ou assiste (que na net são uma real possibilidade) e, caso nosso amigo do estudo esteja certo, a conta fecharia -- fazendo todo mundo feliz no processo.

É engraçado que a indústria da TV, com todo o histórico de "pay-per-view", TV a cabo e DVDs vendidos e alugados, seja aquela a encarar isso como o caminho mais óbvio (ver exemplos linkados acima) ao passo que a da música prefere continuar insistindo no modelo de downloads pagos (a única boa opção no modelo por anúncios, e mesmo assim semi-oficial, é o Deezer).

Outra das propostas que ouvi recentemente envolve um complexo sistema de monitoramento do tráfego da Internet por parte dos provedores de acesso para determinar quem está ouvindo o quê e, consequentemente, saber como dividir a grana. Mas de onde vem a grana nesse caso, você pergunta? De uma "taxa de música" fixa, cobrada junto da assinatura de seu provedor. Na minha opinião isso abre caminho para um monte de reclamações de pessoas que estarão pagando o mesmo que aquele panaca que não faz mais nada da vida além de ficar online baixando músicas -- o que também não é justo.

O modelo correto tem que assegurar que o artista possa viver de música (e não sobreviver), de forma que ele tenha incentivo para continuar produzindo, e ao mesmo tempo cobre o valor certo de quem consome -- uma forma de cobrança é a exposição à propaganda, claro. Conforme podemos ver nos exemplos atualmente disponíveis ainda há um bom caminho até chegar lá, mas o Deezer parece definitivamente um passo na direção certa. Vamos torcer para que as grandes gravadoras acordem para ele.

Para mais detalhes sobre o Deezer, siga esse caminho.

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