O terreno frágil onde pisava rangeu. Não sabia mais se seguia ou volvia. Pra trás, o rastro incerto que deixava clara a ausência de propósito. Mas a cada passo, mais longe da borda se encontrava, mais arriscado voltar se tornava, mais comprometido estava. Já estava longe demais. A responsabilidade, o medo, a insegurança.
Voltava o pensamento ao passado, lembrava-se de como havia iniciado a jornada. Nada intencional, nada proposital. Um desejo, vontade, pressão. Via todo o grupo seguir viagem, ficou com medo de ficar pra trás.
Os primeiros passos foram fáceis, simples. Sentiu grande alívio ao percebê-lo, pois pensou que seria sempre assim. Mas logo notou que seus colegas tomavam rumos diferentes do seu. Tinham diferentes objetivos e logo se viu sozinho. Aquele medo de ficar para trás tornou-se concreto.
Sentia que cada passo em frente era como avançar pisando num lago congelado, cuja cobertura de gelo se afina quanto mais se aproxima do centro. E era onde estava agora, no meio da jornada, no centro do lago. Por que não ficou na borda? Lá, ao menos, estava seguro.
Engraçado pois agora lembrava que quando se viu só, no início da jornada, não pensou em voltar. Algo além do medo o moveu pra dentro do lago congelado. A possibilidade de descoberta, o desconhecido, o cacete. Nunca tinha racionalizado direito, mas foi o que todos fizeram e ele fez também, boa ovelha que era.
Mas ficar só, isso não estava nos seus planos. Era verdade que de vez em quando cruzava com seus colegas que tinham iniciado jornada juntos. Mas era acidental e temporário. Eles continuavam buscando destino diferente do seu.
E ele se perguntou: qual é o meu destino? E como os outros definiram os seus? Como sabiam pra onde ir? Inquiria cada um que cruzava, na ânsia de descobrir como conseguir o mesmo para si. Mas as respostas eram desalentadoras. Quase todos tinham começado viagem assumindo que, já que seu vizinho tinha um destino, eles também tinham de tê-lo – e mesmo sem destino, seguiam viagem. Alguns poucos, raras exceções, tinham destino claro e definido. Mas não precisava de muito tempo para perceber que não tinham vindo de si, mas de outrem.
E ele continuava seguindo, até que encontrou alguém que quis se juntar a ele em seu caminho. Era uma pessoa diferente pois não queria saber de destino, mas de companhia. Também não queria seguir só. E gostava dele, do seu jeito de falar e de pensar. Ele estranhou, pois nunca tinha experimentado se afeiçoar de ninguém. Não via o propósito. Mas algo estranho, dentro de si, fez com que esse afeto tornasse-se recíproco.
Durante algum tempo ponderaram, juntos, o objetivo dessa união de forças. Mas objetivos faltavam. Tudo que tinham lhe conectando era esse amor que sentiam um pelo outro. A discussão por objetivos tornou-se fútil, e seguiram caminho.
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